A CIA MOGIANA DE ESTRADAS DE FERRO NO BAIRRO VILA INDUSTRIAL
A Cia. Mogiana foi aberta ao tráfego em 03 de maio de 1.875, ligando Campinas à Jaguari (Atualmente Jaguariúna), posteriormente até Mogi Mirim, em 27/08/1.875 e Casa Branca em janeiro de 1.878 (RODRIGUES, 1997, p. 12).
Assim, a Mogiana seguia em direção ao oeste paulista, atingindo mais tarde o sul de Minas. A Mogiana foi a primeira estrada de ferro a ultrapassar os limites do Estado de São Paulo, e através dela houve uma ligação com todo o sul de Minas, boa parte do oeste de Minas, todo o Triângulo Mineiro e todo o Estado de Goiás, sendo esta situação alterada somente com advento das rodovias (MATOS, 1981).
O pátio ferroviário central de Campinas era o entroncamento de várias ferrovias mas principalmente da Paulista e da Mogiana, o que consolidou a vocação da cidade como “boca do sertão” (RODRIGUES, 1997, p. 14).
Existia certa complexidade nas manobras de trem deste pátio, pois existiam adaptações para os dois tipos de bitolas: as linhas da Cia Paulista tinham bitolas de 1,60 m e as da Cia Mogiana, 1,00 m. Esta situação forçava o passageiro a mudar de trem em seu percurso, e por isto criou-se no pátio ferroviário os edifícios de baldeação. Conforme citações em relatórios de época (RELATORIO, 1875-1877, p. 37):
Em Campinas, o armazém geral de baldeação mede a área de 5.168metros quadrados (…). Interiormente e ao longo d’esses edifícios correm quatro vias ferreas, duas de cada bitola. Oserviço de baldeação das cargas de exportação, procedentes da estrada Mogyana ou para ella destinadas, é feito pelo pessoal da Companhia Paulista, dividindo-se as despesas entre as duas empresas.
A Cia Mogiana no início não possuía estação própria e por isto alugou a estação da Cia Paulista até aproximadamente 1.900, quando construiu sua própria, no bairro Guanabara. (RODRIGUES, 1997, p. 15).
A situação de dependência da Cia. Mogiana dos espaços da Cia. Paulista, não era só com relação à estação e pagava o valor de 300$000 mensais pelo aluguel de vários edifícios. Por este motivo começou a comprar terrenos ao redor da estação da Cia. Paulista, tendo como objetivo sua expansão (RELATORIO, 1875-1877, p. 37).
O primeiro documento encontrado que diz respeito diretamente ao parcelamento do solo na área do pátio ferroviário, demonstrando a necessidade de expansão da Cia. Mogiana, data de 27 de junho de 1.893, onde existe a solicitação da Cia. Mogiana à Câmara Municipal para que doe parte do terreno de sua propriedade totalizando uma área de 13.620m², para essa companhia (RODRIGUES, 1997, p. 12).
Além destes terrenos da Câmara, aquela companhia adquiriu também terrenos de Arens Irmãos (próximo ao armazém da Paulista) e terrenos da Cia. Mac Hardy situados próximos da atual Vila Industrial, ao lado dos prédios da Imigração, e também uma pequena parte do terreno do Hippodromo, conforme comparação entre as plantas da cidade de Campinas de 1900 e 1916 (RODRIGUES, 1997, p. 13).
Em 1900, a Cia Mogiana projeta várias construções de prédios e linhas, prevendo já aumentos para os mesmos, conforme demonstrado no projeto original. Em quatro anos constrói praticamente todos seus prédios, a maioria de extremo requinte construtivo e de grandes dimensões (RODRIGUES, 1997, p. 13). Um grande conjunto de oficinas da Cia. Mogiana nascia neste local:
OFICINAS DE LOCOMOTIVAS – É o prédio mais “monumental” da Cia. Mogiana. Apresenta um bloco principal com seu pé-direito atingindo 15,60m e com extensão de 89,40m, o qual era utilizado como oficina de montagem. Nas suas laterais existem dois blocos menores, que compõem com o bloco maior, onde funcionavam as oficinas de ajustagem, de caldeireiros e de ferreiros. Neste local foi construída a primeira locomotiva do Brasil (Figuras 1, 2, 3 e 4) (RODRIGUES, 1997, p. 14).
Em 1.904, quando do término de sua construção, o edifício já era um dos mais importantes do país. Alguns materiais foram importados para sua construção assim como seus equipamentos (RODRIGUES, 1997, p. 14).
Toda a leve e elegante structura do edifício é de aço, trabalhando, nas condições de carga maxima do guindaste (…), foi feita pela importante fábrica “Brückenbau Flender”, de Benralh-Alemanha (RELATÓRIO, 1901, p. 174).
OFICINAS DE CARROS E VAGÕES – São compostas de dois blocos separados, e que constam no “Projeto Geral das Oficinas Novas” da Cia. Mogiana de 1.900. Foram construídas nos terrenos da Cia. Mac Hardy, adquiridos após 1.900 pela Mogiana. Em 1.903, o primeiro bloco já estava terminado sendo construído o segundo aproximadamente na década de 1.910 (Figura 5) (RODRIGUES, 1997, p. 14).
USINA GERADORA E CAIXA D’ÁGUA – Estes prédios constam também do “Projeto Geral das Oficinas Novas” de 1.900. Em 1.903 já estava construído o bloco principal, sendo ampliado na década de 1.920 com dimensões e características idênticas aos originais. Nos relatórios de época da Cia. Mogiana, a usina geradora é citada com grande entusiasmo, dada a avançada tecnologia empregada no maquinário interno ao prédio (Figura 6) (RODRIGUES, 1997, p. 14).
ROTUNDA – A rotunda consta do plano de 1.900. Construída para abrigar 26 locomotivas, suas dimensões ultrapassaram a rotunda da Cia. Paulista, que abrigava 15 locomotivas (Figura 7) (RODRIGUES, 1997, p. 14).
A Cia Mogiana possuía também fundições, sendo uma delas comprada do Sr. Lemos, que fica no local da saída do túnel de pedestres na Vila Industrial (Figura 8) (RODRIGUES, 1997, p. 15).
Outros edifícios foram construídos pela Cia Mogiana neste local, como o Escritório de Locomoção e Almoxarifado, Armazéns, Casas do Mestre de Linha e do Pessoal da Turma das Chaves (no local da atual rodoviária) e pontes: sobre trilhos, na atual rua Pereira Lima e sobre rua, na atual rua Dr. Mascarenhas (Figura 9) (RODRIGUES, 1997, p. 16).
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
CONDEPACC. Relatório final de Tombamento/proc. nº 004/89 – Conjunto Ferroviário – FEPASA. Campinas, 1.989.
MATOS, Odilon Nogueira de. “Café e Ferrovias”. São Paulo: Ed. Arquivo do Estado, Coleções Monografias, 1981.
RELATÓRIO da Direção Mogyana. /s.l./ : / s.n./, 1875-77.
RELATÓRIO da Diretoria da Cia. Mogyana de Estradas de Ferro e Navegação. /s.l./ : /s.n./, nº 49, 1901.
RODRIGUES, Ana A. Villanueva. “Preservação como Projeto. Area do pátio central das antigas Cia. Paulista e Cia. Mogiana – Campinas – SP”. São Paulo: Dissertação (mestrado), FAU – USP, 1997.
Trabalho de pesquisa excelente! Parabéns pelo esmero e pelo empenho! Muito gostoso de ler!
Fico feliz em saber que esta pesquisa está sendo apreciada.
Ótima pesquisa, amei. Sou estudante de arquitetura e urbanismo, estou realizando uma pesquisa sobre a Oficina Mogiana, vc saberia me informar se é possível conseguir arquivos como fotos, plantas baixas e processo de tombamento sobre o edifício?
Maravilha..adorei..sou descendente da mugiana
Que legal Roberto ! e você não tem fotos antigas para postar ?