A HOSPEDARIA DOS IMIGRANTES NO PATIO FERROVIÁRIO DA VILA INDUSTRIAL

A HOSPEDARIA DOS IMIGRANTES NO PATIO FERROVIÁRIO DA VILA INDUSTRIAL

Julho 14, 2020 2 Por Ana Villanueva

Entre 1882 e 1900 a cidade de Campinas recebe 10.631 imigrantes estrangeiros (BAENINGER; MAIA, 1996, p. 32). Em 1885 chega um grande numero de imigrantes italianos e portugueses (CONDEPACC, Processo de tombamento 01/12).

Este grande numero de imigrantes levou a criação de uma hospedaria provisória, no ano de 1885, no largo Santo Cruz. Lá os imigrantes eram acolhidos, mas como não tinha capacidade para receber uma grande quantidade de imigrantes, muitos perambulavam desorientados pela cidade (CONDEPACC, Processo de tombamento 01/12).

Esta situação provisória levou a Câmara Municipal de Campinas, em 17 de outubro de 1887, a criar uma comissão para construção definitiva da “hospedaria dos imigrantes e seus familiares que eram destinados aos fazendeiros de Campinas e da região” (GATTI, 2018).

“Considerando-se da maior conveniência para os interesses gerais do município a construção de um alojamento que sirva nesta cidade de abrigo confortável aos imigrantes estrangeiros, propôs o sr. José Paulino que esta câmara nomeasse duas comissões incumbidas por subscrição popular capital necessário para a fundação do dito alojamento” (CAMARA MUNICIPAL, 1887). 

Em julho de 1890, o então governador do estado de São Paulo, Prudente José de Moraes e Barros, providencia a escolha dos terrenos para a construção dos alojamentos dos imigrantes em Campinas 

Em setembro de 1890, fica decidido a construção “do alojamento dos imigrantes nos terrenos de propriedade de Francisco Theodoro, no local denominado de Chácara da Arvore Grande” (GATTI, 2018).

O projeto foi desenvolvido pelos engenheiros Antônio Cândido de Azevedo Sodré, diretor da Delegacia da Inspetoria de Colonização e Terras em São Paulo e José Ribeiro da Silva Pirajá seu auxiliar (GATTI, 2018).

A construção da hospedaria começou em 19 de janeiro de 1891, a partir da licitação e a contratação de Malfatti & Massagli, empresa criada pelo carpinteiro Maurício Malfatti e pelo construtor Giosue (José) Massagli, ambos italianos (GATTI, 2018).

“Maurício Malfatti chega em Campinas para trabalhar como carpinteiro na construção da Igreja Matriz em 1879. O primeiro registro da presença de Giosue Massagli aparece na licitação do prédio do Circolo Italiani Uniti em 1885” (GATTI, 2018).

Pode-se observar na planta da cidade de Campinas a existência de cinco prédios denominados de Immigração, entre a rua Francisco Theodoro que era a divisa dos terrenos das duas companhias de Estrada de Ferro, a Paulista e a Mogiana com o bairro Vila Industrial (Figura 1).

Figura 1- Planta de 1900. Hospedaria dos Imigrantes 
Tratamento de Imagem: Maneco Silva
Inserção de dados: Ana Villanueva

A fachada principal destes edifícios era na direção do pátio ferroviário e a fachada posterior na avenida Salles de Oliveira. As fachadas laterais eram os dois dormitórios: de expedições e de internamento (Figuras 2 e 3). 

Figura 2 – Hospedaria dos Imigrantes – início do século XX.
Acervo: Museu da Imagem e do Som de Campinas
Coleção: Fotógrafo Austero Penteado 
Inserção de dados: Ana Villanueva
Figura 3 – Dormitório de Internamento – Hospedaria dos Imigrantes
Início do sec. XX.
Fonte: Albúm da Cia Mogiana no Museu Ferroviário Barão de Mauá – Jundiaí – SP
Reprodução fotográfica: Juvenal Elias – 1989
Acervo: Dissertação de Mestrado – Ana Villanueva – 1997
Tratamento de Imagem: Maneco Silva 
Inserção de Dados: Ana Villanueva

Possuía uma área de 7935 metros quadrados, inclusive os pátios internos com dois dormitórios com 769 metros e duas enfermarias de 675 metros quadrados por determinação do Ministério da Agricultura, Comercio e Obras Públicas. Ainda fazia parte deste conjunto a administração e o refeitório (Figura 4) (GATTI, 2018).  

Figura 4 – Hospedaria dos Imigrantes – Edifício da Enfermaria – Início do séc. XX.
Fonte: Albúm da Cia Mogiana no Museu Ferroviário Barão de Mauá – Jundiaí – SP
Reprodução fotográfica: Juvenal Elias – 1989
Acervo: Dissertação de Mestrado – Ana Villanueva – 1997
Tratamento de Imagem: Maneco Silva 
Inserção de Dados: Ana Villanueva

Aproximadamente 1500 imigrantes foram acolhidos nestes prédios.

Em maio de 1909, a Companhia Mogyana de estradas de Ferro e Navegação adquire vários terrenos e as edificações da hospedaria dos imigrantes para transforma-los em deposito, carpintaria e oficina para construção e reformas de vagões e locomotivas.

É possível observar na planta de 1916 a ampliação da Cia Mogyana no sentido do bairro Vila Industrial, com os edifícios da Imigração (Figura 5) e na planta de 1929, a sua total incorporação dentro dos muros do pátio ferroviário (Figura 6).

Figura 5 – Planta da Cidade de Campinas de 1916
Hospedaria dos Imigrantes e Cia Mogyana de Estradas de Ferro.
Tratamento de imagem: Maneco Silva
Inserção de dados: Ana Villanueva
Figura 6 – Planta da cidade de Campinas – 1929
Hospedaria dos Imigrantes e Limite do Pátio Ferroviário 
Tratamento de imagem: Maneco Silva
Inserção de dados: Ana Villanueva

Atualmente somente o dormitório de expedição permanece com sua estrutura original (Figura 7).

Figura 7 – Hospedaria dos Imigrantes – Dormitório das Expedições 
Foto: Luis Granzoto – 1989
Acervo: Dissertação de Mestrado – Ana Villanueva – 1997
Tratamento de imagem: Maneco Silva

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 

BAENINGER, Rosana & MAIA, Paulo Borlina. “Migração em São Paulo – 1 – Regiao de Governo de Campinas”. Textos NEPO 22, Unicamp, 1992.

CAMARA MUNICIPAL. Ata da Sessão de 17 de outubro de 1887.

CONDEPACC. “Hospedaria dos Imigrantes”. Processo de tombamento 01/12.GATTI, Gilberto. “Hospedaria de Imigrantes de Campinas: A 1a obra do governo federal na cidade”. Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas, abril, 2018

GATTI, Gilberto. “Hospedaria de Imigrantes de Campinas: A 1a obra do governo federal na cidade”. Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas, abril, 2018.